What I've Done

Minha mãe é anti-magia?

Mãe é figura de amor, proteção e do sagrado feminino em diversas culturas, mas nunca esperei vivenciar essa frase genérica de livro tão fortemente, especialmente tendo uma família que nem de longe parecia ser uma de comercial de margarina.

No ápice da minha adolescência mal instruída, onde vivia trancada num quarto que dividia com meu irmão na maior parte do tempo, comecei a ver coisas. Não entrarei em detalhes sobre essas coisas mas basta dizer que não pareciam boas coisas. Até então só ficava com muito medo e desejava muito que fossem embora, e alguma hora eles desapareciam, até que as coisas começaram a falar comigo e me imobilizar. Também não entrarei em detalhes sobre isso bastam saberem que não eram paralisias do sono, afinal, esse texto não é para me aprofundar sobre eles, esse texto é sobre minha mãe.

Aquela altura eu já estava metida em tudo que é círculo tentando entender o que estava rolando, conheci uma garota espírita que me perguntou o que eu fazia pra eles irem embora e porque, respondi o que fazia mas que não estava mais funcionando tão bem: rezava o ave maria, porque me ajudava a visualizar uma mulher que sempre aparecia nos meus sonhos com muita luz em volta da sua cabeça, me impossibilitando de ver qualquer coisa que não fosse seus longos cabelos pretos, e que sempre enchia tudo ao meu redor de água mas nunca inundava meu quarto, porque a janela e porta dele estavam sempre trancadas, mas era visível o nível da água subindo pelo vidro da janela. Ao que ela me respondeu com várias perguntas:

Você nunca se perguntou porque eles só aparecem no seu quarto e a noite? O que nela te faz pensar que seja maria? Qual a cor do cabelo da sua mãe?

Eu não sabia responder nada daquilo exceto que o cabelo da minha mãe era preto. Nunca fui religiosa e só rezava o ave maria porque só conhecia o catolicismo e achava mais confiável entregar minha segurança para uma mulher que passou pela terra do que a um pai nosso que estais no céu desde sempre. Não entendi o que ela queria me dizer, ou no que minha mãe, um ser que definitivamente é um ser humano, poderia me ajudar com essa porra que com certeza não era humano. Fiquei pensando sobre isso e estava decidida a fazer um teste que poderia destruir o que me restava de sanidade mental e orgulho como individuo maior de idade: aquela noite eu iria dormir com meus pais se necessário.

Bom, não demorou muito pra se mostrar necessário, a coisa apareceu e antes que pudesse me imobilizar saí do meu quarto e corri pro dos meus pais, eu, no auge dos meus 18 anos, com um lençol e travesseiro entrando de fininho... deitei no chão ao lado da cama. Minha mãe perguntou o que eu estava fazendo ali e eu só respondi:

Estou fazendo um teste, não se preocupe.

Ela só deu de ombros, disse

Tudo bem, estou com sono, amanhã conversamos.

e voltou a dormir, mas porra, como que ela conseguia dormir com aquela coisa grudada no teto bem acima dela? Foi ali que percebi: só eu via, só eu sentia, só eu era o alvo daquela coisa, então a chance de ser coisa da minha cabeça era muito grande. Mas também percebi outra coisa que seria muito importante: a coisa não se mexia, não falava, não podia me tocar e ficou imobilizada no teto me encarando até sumir muito rápido.

A partir dessa conclusão consegui muito conhecimento, um deles foi me defender daquelas coisas em qualquer lugar, já não me importava se era coisa da minha cabeça contanto que me livrasse daquilo e acabou a história, sabe, sou uma mulher simples. Não muito tempo depois descobriria sem esforço quem me atacou, porque me atacou, quem me defendeu e quais foram as consequências, mas isso é história para outro texto que talvez nunca seja escrito. O que importa é que minha mãe é anti-magia, e quem nos disse que mãe só tem uma?